Heródoto |
O estatuto científico da História é ainda hoje uma questão importante a ponto de ainda se colocar a pergunta: pode haver um conhecimento histórico genuíno, i.e., um conhecimento ao mesmo nível do que é estabelecido nas demais ciências? A questão mesma não deixa de ser pouco complicada. Por muito tempo a Matemática fora o modelo de ciência e seus enunciados a referência do padrão de certeza que todos os enunciados científicos deveriam atingir. Hoje, porém, ninguém diria que a Matemática estabelece um padrão a ser seguido e muitos epistemólogos nem mesmo consideram-na como “ciência” dado seu caráter tautológico. Quando se fala ordinariamente em Ciência, então, tem-se em vista as chamadas Ciências Naturais e, mas propriamente, a Física. A questão passa a ser, portanto: é possível falar da Ciência Histórica no mesmo sentido em que chamamos a Física de ciência? O que há em comum entre a Física e a História que justifique a categoria comum de “ciência”?
Não nos deixemos enganar, contudo, por esse modo talvez muito inapropriado de propor a questão. O que desejamos estabelecer não são semelhanças entre disciplinas bastante distintas, ainda menos recuperar a equivocada pretensão dos positivistas de fazer da Física um modelo de todas as ciências; o que desejamos saber é se os procedimentos da pesquisa história são estruturalmente congruentes com os procedimentos que sem muita dificuldade podem ser reconhecidos como científicos: explicação, dedução, experimentação, demonstração, etc.
A primeira questão a ser abordada pelo presente trabalho é a da cientificidade, qual seja, se a História compartilha da mesma lógica de pesquisa científica. Para tal partiremos da concepção estrutural da Ciência que nos parece hoje a mais apropriada, ou seja, aquela que sem abrir mão das exigências de rigor da tradição analítica escapa às inconsistências do neopositivismo. Refiro-me ao trabalho de Karl Popper que, embora não deva ser considerado algo de definitivo nas questões que soluciona, tem o mérito de apresentar clara e distintamente os problemas fundamentais da metodologia da Ciência em geral e resolvê-las de modo a não excluir, por princípio, nenhuma forma de saber.
A seguir, analisamos como, dentro de uma perspectiva racionalista-crítica o problema da objetividade em História não oferece maiores dificuldades, sendo estruturado de modo perfeitamente análogo às ciências em geral. Nossa referência nesse momento é o trabalho de Paul Ricouer.
Reforçando a tese geral de que a lógica científica (metodologia) não se altera ao se passar de uma ciência particular à outra, apresentamos as conclusões de Hempel sobre o papel das leis gerais na ciência histórica.
Finalizamos indicando que a tese geral aqui defendida não isenta a História de problemas específicos de ordem teórica ou metodológica. As especificidades da História, contudo, no aparecem não como uma objeção ao seu caráter científico ou objetivo, mas como limitação a um desenvolvimento formal (formalização) ou tecnológico (engenharia), o que em termos epistemológicos não merece mais consideração em História que em outras ciências humanas, sociais ou mesmo naturais.
(Texto completo a ser postado nas próximas semanas)
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(Texto completo a ser postado nas próximas semanas)