
Não pode haver ciência onde o debate racional está como que encerrado, onde doutrinas, por vezes obscuras, de pouca compreensão mas fácil reprodução, são admitidas como verdades assentadas sobre misteriosas evocações de autoridade. Retomando uma longa tradição crítica, nem faz um século ainda, Sir Karl Popper lembrou da necessidade, em sentido lógico mesmo, de manter-se o universo das teorias científicas aberto a críticas mútuas.
Por fim a interdisciplinaridade da qual hoje muito se fala e pouco se pratica. É verdade que a economia é uma ciência autônoma (não se há de contestar isso), mas é verdade também que muitos desvios teóricos, metodológicos e epistemológicos poderiam, nela, terem sido evitados se a antiga tradição humanística do século XIX não houvesse se perdido em meio aos devaneios alfanuméricos. Caminhos por evidente equivocados poderiam ter sido evitados, fantasmas de equívocos superados (valor-trabalho, monopólios, bens públicos) que povoam a teratologia economia poderiam já ter caído em esquecimento; outros, bons caminhos, poderiam ter se encurtado se a ciência da economia não se tivesse deixado seduzir por imagens de perfeccionismo científico, malgrado apenas imaginado. A crítica do filósofo é sempre suspeita, mas raramente injusta por completo. E já que não se critica a ciência mesma, mas o estado atual de uma ciência, é razoável ter a esperança de que a revista Mises contribuirá para a refundação da ciência econômica entre os trópicos, onde a razão anda a faltar-nos.