"Albo lapillo notare diem" - foi com este velho ditado romano que o professor Ubiratan Iorio, diretor acadêmico do Instituto Mises Brasil, anunciou o lançamento da revista acadêmica do instituto. Há duas ou três coisas notáveis nesse fato: trata-se de uma revista acadêmica ligada à Escola Austríaca de Economia; de uma publicação que convida os adversários dessa escola ao debate científico; e, enfim, de uma revista interdisciplinar. Se a primeira das razões da importância que tributo ao fato interessa mais aos que já conhecem a tradição econômica que remonta a Carl Menger, embora seja grande a esperança de que jovens e velhos acadêmicos venham conhece-la através da Mises, são as duas outras razões que maior entusiasmo despertam, sobretudo a quem já foi tomado por um pouco de desencanto sobre os rumos da vida universitária brasileira.
Não pode haver ciência onde o debate racional está como que encerrado, onde doutrinas, por vezes obscuras, de pouca compreensão mas fácil reprodução, são admitidas como verdades assentadas sobre misteriosas evocações de autoridade. Retomando uma longa tradição crítica, nem faz um século ainda, Sir Karl Popper lembrou da necessidade, em sentido lógico mesmo, de manter-se o universo das teorias científicas aberto a críticas mútuas.
Por fim a interdisciplinaridade da qual hoje muito se fala e pouco se pratica. É verdade que a economia é uma ciência autônoma (não se há de contestar isso), mas é verdade também que muitos desvios teóricos, metodológicos e epistemológicos poderiam, nela, terem sido evitados se a antiga tradição humanística do século XIX não houvesse se perdido em meio aos devaneios alfanuméricos. Caminhos por evidente equivocados poderiam ter sido evitados, fantasmas de equívocos superados (valor-trabalho, monopólios, bens públicos) que povoam a teratologia economia poderiam já ter caído em esquecimento; outros, bons caminhos, poderiam ter se encurtado se a ciência da economia não se tivesse deixado seduzir por imagens de perfeccionismo científico, malgrado apenas imaginado. A crítica do filósofo é sempre suspeita, mas raramente injusta por completo. E já que não se critica a ciência mesma, mas o estado atual de uma ciência, é razoável ter a esperança de que a revista Mises contribuirá para a refundação da ciência econômica entre os trópicos, onde a razão anda a faltar-nos.