M. Foucault |
Tenho estudado bastante a obra de Michel Foucault. É meu tema de dissertação de mestrado e uma paixão antiga. De vez em quanto leio um ou outro "comentário" de filósofos, psicólogos, historiadores... pelos deuses, quanta bobagem se escreve sobre ele. Houve já quem o vinculou ao anarquismo (o anarquismo da tradição anarco-sindicalista)! Há quem o chame de esquerdista e a todos os seus livros torça a procura de uma gota ao menos de marxismo. Isso só mostra como é dificil às pessoas assimilar coisas novas. Têm sempre elas, parece, necessidade de fazer com que o novo repita o antigo.
Não falarei sobre suas obras. Aos que conhecem sua biografia pergunto: que lutas esse intelectual preferiu lutar? A eterna luta dos operários contra os pérfidos burgueses? Certamente que não. Seu engajamento na luta contra as prisões ao mesmo tempo em que escrevia uma história dos mecanismos punitivos do estado (dos poderes de vida e morte, de controle e normatização que este se outorgou) já nos deveria deixar claro que se algo de político deve ser extraído do seu trabalho é um vigoroso anti-socialismo. Sua preocupação (nas obras ditas genealógicas) não é a violência, mas a violência de estado; não é o racismo, mas o racismo de estado; não é o poder em si mesmo, mas o poder que se estrutura em mecanismos do estado.
Não seria apropriado então, se queremos vincular seu trabalho com alguma corrente política, vinculá-lo ao libertarianismo de tradição norte-americana? Não seria Foucault um ídolo das esquerdas por um mal-entendido difícil de explicar sem evocar certo analfabetismo natural desses amantes da plebe?
Não creio que Foucault tenha conhecido o trabalhos dos libertários ou mesmo fosse versado na Escola Austríaca (cita Menger muito superficialmente em As palavras e as coisas, para que possamos inferir um conhecimento mais profundo), mas certamente era um nietzscheano. Quem conhece Nietzsche talvez se lembrará do que ele falou desse novo deus, o estado, e suas palavras pouco elogiosas ao socialismo.
Para que não digam que estou especulando. Deixarei por hora só esta idéia. Prometo para breve, porém, um texto sobre as implicações liberárias de suas aulas no College de France, publicadas sob o título de Em Defesa da Sociedade.
Uma paixão antiga, e uma paixão nova: quem sabe não poderei conciliá-las?
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