domingo, 29 de janeiro de 2012

Megalomania e Estupidez: Querem regular a profissão de... filósofo!

O Brasil estaria melhor se todos os nossos parlamentares apenas recebecem seus vultosos salários e se dignassem a nada fazer. Leiam abaixo o comunicado da ANPOF (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE POS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA) sobre o projeto de lei que quer regulamentar a profissão... pasmem amigos... de filósofo! Nem tenho palavras...

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"Repúdio ao projeto de lei que regulariza a profissão de "filósofo"

"Prezados colegas:

Tramita no Congresso Nacional, em regime conclusivo, o projeto de lei nº 2533/11, elaborado  pelo depudado Giovani Cherini (PDT/RS)* . Seu objetivo é  regulamentar a profissão de filósofo no Brasil. Conforme a proposta do deputado Cherini, o desenvolvimento de projetos socioeconômicos regionais, setoriais ou globais deverão contar com a participação de filósofos devidamente registrados no Ministério do Trabalho. Estarão qualificados para o exercício da profissão todos aqueles que possuírem título de bacharel em filosofia, os diplomados “em cursos similares” no exterior, após terem seus diplomas revalidados, além de mestres e doutores não diplomados que exerçam a atividade há mais de cinco anos. O mencionado projeto de lei também assegura que a profissão de “filósofo” poderá ser exercida por membros titulares da Academia Brasileira de Filosofia e “aos por ela diplomados”. Para conferir a íntegra do projeto de lei, acesse:
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=523870

Como representante da comunidade de pós-graduação dos cursos de filosofia no Brasil, a ANPOF vem manifestar seu repúdio a tal projeto.

Cursos de filosofia formam professores de filosofia, que podem ou não ser filósofos. Assim também, cursos de literatura formam professores de literaratura, que podem ou não ser literatos. Finalmente, há filósofos e literatos sem titulação acadêmica. É tão absurdo exigir diplomação específica para alguém ser filósofo quanto seria exigir diplomação específica para alguém ser escritor. A filosofia não é e nem deve tornar-se competência exclusiva de um segmento qualquer, seja ele de natureza estamental, profissional ou ideológico.

Acima de tudo, causa-nos estranheza a prerrogativa que o projeto pretende dar à Academia Brasileira de Filosofia, que qualifica como filósofos João Avelange e Carlos Alberto Torres, capitão da seleção de futebol de 1970. Trata-se de uma associação absolutamente inexpressiva no que concerne aos estudos, projetos de pesquisa e ensino da filosofia em nível universitário. A despeito disso, o referido projeto quer transformar essa entidade na representante da filosofia e da “língua filosófica” nacionais” (artigo 7).

Por essas razões, endossamos o abaixo‑assinado que circula na Internet contra o mencionado projeto, que pode ser acessado a partir do link que inserimos abaixo.

http://www.change.org/petitions/abaixo-assinado-contra-a-regulamentao-de-filsofo-como-profisso-contra-a-regulamentao-de-filsofo-como-profisso
Cordialmente,

Vinicius de Figueiredo (Presidente da Diretoria da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia – ANPOF)"

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Certamente não é o projeto mais grave nem o mais insensato a tramitar em nosso Parlamento, mas dá uma boa medida da megalomania, ignorância e completa estupidez em que Brasília afundou.

Pessoalmente, creio que a comunidade filosófica séria não será afetada por essa bobagem, ainda que tal projeto seja aprovado. Diante dos "filósofos" nomeados pela ABF ou habilitados de qualquer modo, os estudiosos de filosofia responderão como sempre responderam aos tolos que assim se auto-intitularam: com riso e sarcasmo. 

Agora, imaginem, meus caros, como essa notícia chegará à Europa. Novamente seremos ultrajados diante do mundo todo. Fazer o que? Cada povo tem os governantes que merece!

sábado, 28 de janeiro de 2012

Subsídios à leitura d’A ação Humana de L.v. Mises ( I ): A noção de "regularidade"

Há algum tempo publiquei o primeiro capítulo da obra A Ação Humana de L.v. Mises, como parte de meus esforços no sentido de compreender melhor a Escola Austríaca de Economia. Recentemente, o Sr. Barlavento do blog Meus FAQs, respondendo a tal postagem, indicou-me um texto, de sua autoria, no qual contesta, de forma um tanto quanto temerária, penso, os princípios da praxeologia expostos pelo filósofo austríaco. Isso posto, é preciso responder ao nosso amigo crítico no intuito de esclarecer o significado do pensamento de von Mises, a parte concordâncias ou discordância de ordem político-ideológica, as quais tomo a liberdade de por de lado, detendo-me tão só na correta compreensão do texto.

Assim, publicarei respostas às suas interrogações como um esforço de subsidiar a leitura de tal tratado, detendo-me somente na questão da significação das teses, deixando para o leitor a avaliação de sua correção ou incorreção, segundo o bom senso de que todos são igualmente providos, como dizia Descartes. Embora me dirija especialmente ao nosso amigo crítico, tais textos representam um esforço pessoal de aprendizado, o qual, espero, possa ser compartilhado por outros que por aqui passarem.

Dito isso, consideremos a primeira questão. Nosso amigo Barlavento, citando a Introdução do tratado, elabora interessantes interrogações e objeções contra a ideia básica ali exposta, i.e., a existência de uma ciência formal da ação humana, cujas proposições devem ser estabelecidas dedutivamente. Retomemos somente os trechos mais importantes citados por nosso crítico:

“A descoberta da inevitável interdependência dos fenômenos do mercado destronou essa opinião. Desnorteadas, as pessoas tiveram de encarar uma nova visão da sociedade.” [Mises, 1990, p. 6]

“Na ocorrência de fenômenos sociais prevalecem regularidades as quais o homem tem de ajustar suas ações, se deseja ser bem-sucedido.” [Id., Ibid., p. 6-7.]

“(...) Toda decisão humana representa uma escolha. Ao fazer sua escolha, o homem escolhe não apenas entre diversos bens materiais e serviços. Todos os valores humanos são oferecidos para opção” [Id., Ibid., p. 7]

Vejamos o que anota nosso crítico:

“Porquê o homem tem que ajustar suas ações às regularidades? Que regularides são estas? e, porquê a interdependência alegada seria inevitável? E ainda, o que seria ser "bem sucedido" dentro do "juízo de valores" do autor?  Sendo necessária uma "nova visão da sociedade", é um tanto contraditório alegar sobre "regularidades as quais o homem tem de ajustar suas ações". Ora, se existem "regularidades" já identificadas, é certo que alguma "visão" às enxergou, portanto, é falho tentar ajustar comportamentos dentro de regularidades a partir desta visão viciada e clamar por uma "nova visão da sociedade". Qual seria a origem de tais "regularidades"? Se são regularidades, possuem padrão, consequentemente possuem características, as quais podem ser alteradas, aperfeiçoadas, etc....”

Analisemos suas questões:

1)    Por que o homem tem de ajustar suas ações às regularidades?
2)    Que regularidades são essas?
3)    O que significa ser “bem-sucedido” nesse contexto?
4)    Alegação de contradição: regularidades X “nova visão da sociedade”;
5)    Qual a origem dessas regularidades?


As duas primeiras questões são básicas: ao compreender o que von Mises chama de “regularidades” temos a chave para a compreensão do propósito e natureza do tratado. Aqui é preciso resgatar uma antiga mas crucial distinção filosófica: todos sabemos o que seja uma ciência empírica e todos compreendemos que a Matemática e a Lógica não são ciências empíricas. O que são então? A resposta é clara: são conjuntos de tautologias (juízos analíticos), como alegava Wittgenstein, ou ciências formais. A Lógica tem a característica adicional de ser uma “ciência normativa”, i.e., uma ciência que não se ocupa em descrever fatos, mas em ordenar as regras de direito do correto raciocínio. Há ciências normativas que não sejam também ciências formais? É questão difícil. Pode-se alegar que a epistemologia o seja e os antigos, junto a Lógica, acrescentavam a Ética e a Estética como ciências normativas. Mas não necessitamos entrar no mérito dessa questão muito complexa. De fato há uma ciência, a Lógica, que é puramente formal (destituída de todo conteúdo empírico passível de verificação experimental) e ao mesmo tempo normativa.

Nesse ponto, é fundamental compreender a noção de “norma”, “regra” e, decorrentemente, “regularidade”. As leis lógicas (como a “lei distributiva”, o princípio de não-contradição ou o “tertium non datur”) são regularidades da estrutura cognitiva humana (se outra estrutura é possível não o podemos saber) ou da linguagem humana, conforme nos expressemos na terminologia da epistemologia mentalista ou linguística. Tais regras, são leis as quais o pensamento “tem de” necessariamente se ajustar: “Não podemos pensar nada de ilógico, pois isso significaria pensar ilogicamente” – diz Wittgenstein.

Desde o século XIX, contudo, há os que contestam essa evidência, reclamando que indivíduos ou grupamentos humanos poderiam não compartilhar da mesma estrutura lógica. Essa crença é chamada “polilogismo” – sendo, obviamente destituída de sentido, reduz-se a alegações vazias. É inútil argumentar longamente contra tal tese: se o leitor supõe que possa haver estruturas cognitivas distintas, a mera possiblidade de que seja esse o caso, impossibilita, de iuris, a vigência da linguagem comunicativa. Ademais, alguém que não acredite na correção absoluta dos princípios lógicos não pode ser persuadido de qualquer tese, visto que não se pode convencer ou ser convencido de qualquer tese sem recorrer aos mesmos, ainda que como critério negativo de verdade.

Nesse ponto, e por analogia à Lógica formal, espero que o leitor já tenha compreendido o significado de “ter de seguir uma regra”. Passemos à noção derivada de regularidade. Nesse ponto, von Mises usa o termo exatamente do mesmo modo que Kant o usou: a Natureza apresenta regularidades, isso é evidente, a questão é justamente a natureza desses regularidades. Quanto à praxeologia, portanto, devemos fazer duas interrogações distintas: 1) há regularidades na ação humana? 2) qual o fundamento de tais regularidades? A primeira questão, já tendo sido há muito resolvida no âmbito das ciências naturais permanece um problema no confuso universo das chamadas ciências sociais ou humanas; a segunda só pode ser resolvida depois de se resolver a primeira.

Qual a posição de von Mises? Muito clara: assim como vigem regularidades na Natureza, o universo da ação e interação humana apresenta regularidades apreensíveis, que apenas precisariam ser descobertas. Tal descoberta é dedutiva, na medida em que espera-se que todas as regularidades da ação humana possam ser derivadas, por análise, da própria categoria de “ação humana”, tal como, por análise, as propriedades do numero natural são dedutíveis da noção de numero natural ou as constantes geométricas são dedutíveis de poucos axiomas sobre as propriedades basilares do espaço. Mises pretende que a praxeologia seja a ciência formal e normativa da ação humana, uma ciência que sempre existiu desde que a primeira regularidade da ação humana foi verificada.

Quais são essas regularidades? Toda regularidade, no sentido da praxeologia, se expressa por uma tautologia (ou juízo analítico) decorrente das categorias envolvidas na ação humana, revelando o modo (forma) como se dá a ação humana, independente dos conteúdos empíricos que ela possa envolver. Assim, como exemplo, a definição de “bem” de Carl Menger [Princípios de Economia, capítulo I, §1]:

“As coisas capazes de serem colocadas em nexo causal com a satisfação de nossas necessidades humanas denominam-se ufãdades: denominam-se bens na medida em que reconhecemos esse nexo causal e temos a possibilidade e capacidade de utilizar as referidas coisas para satisfazer efetivamente às nossas necessidades”

envolve um raciocínio puramente analítico e formal. Um bem é algo capaz de prover nosso bem-estar satisfazendo alguma necessidade. Tal definição é dedutível do fato de que os homens têm de agir, da qual decorre que tem de escolher por essa ou aquela coisa; o que escolhem é, para o que escolhe, um bem, e um bem preferível a outros. Ora, não pertence ao escopo da praxeologia dizer que bem seria preferível ou porque as pessoas preferem isso ou aquilo. A praxeologia lida somente com a forma da ação humana: ao agir as pessoas manifestam uma preferência. Portanto, as regularidades com que lida a praxeologia são sempre formas da ação humana desprovidas de qualquer conteúdo empírico. O fato de que todos “tem de ajustar” suas ações a tais formas é tão intrigante quanto o fato de que temos de ajustar nosso pensamento aos princípios lógicos. É impossível não agir, não preferir, não avaliar, tal como é impossível pensar ilogicamente.

Isso responde às duas primeiras questões. A terceira questão diz respeito a expressão “ser bem-sucedido”. Mises diz que a ação para ser bem sucedida deve ajustar-se às regularidades praxeológicas. Isso implica introduzir a possibilidade do erro e da incerteza objetiva. Ora, embora os primeiros postulados praxeológicos implicam em formas gerais da ação humana, há teoremas decorrentes que implicam o sucesso ou o fracasso da ação. Isso pode parecer surpreendente à primeira vista, uma vez que se admitiu que as ações se ajustam necessariamente as leis praxeológicas. Mas tal como se pode errar um cálculo matemático ou argumentar com base em sofisma, de fato, ao agir, é possível fracassar em decorrência das próprias leis que regem a ação. Um exemplo: suponho que o ouro seja um bom investimento [assim manifesto uma preferência, faço um juízo de valor e uma escolha] e invisto todo meu dinheiro em ouro. De um momento para o outro, porém, grandes jazidas de ouro são descobertas e exploradas, fazendo preço do metal despencar. Resultado: o preço do ouro cai e fico mais pobre do que era antes do investimento, fracassando no intento de melhorar meu bem-estar. O futuro é incerto, uma incerteza objetiva, e as preferências subjetivas das pessoas são incognoscíveis. Logo, em qualquer empreendimento humano, em qualquer ação é possível o fracasso, que no fim se expressa pelo fato de que eu não tenha conseguido melhorar meu bem-estar, mas, o contrário.

Juízos de valor são sempre subjetivos. Isso significa que embora eu possa dizer com absoluta convicção que todos os seres humanos querem sair de uma situação menos favorável para uma mais favorável, eu não posso a priori saber o que cada pessoa avalia como uma situação mais favorável, ou o que, para ela, é um bem. Nisso está a diferença entre um conhecimento formal e um conhecimento material da ação humana: o conhecimento formal é dedutível, mas vazio; o conhecimento material é significativo mas só se pode adquiri-lo a posteriori.

A última questão diz respeito a origem das regularidades. Creio que o que se disse até o momento é suficiente para deixar claro como ela é destituída de sentido: as regularidades que caracterizam a estrutura formal da ação humana, são condições formais da ação para os seres racionais, tal como os princípios lógicos. Se por origem se entende uma gênese psicofísica a questão da origem é irrelevante. Caso se entenda uma derivação transcendental, isso seria um problema crítico ou fenomenológico, que, em todo caso, não afeta o fato de que tais leis permanecem válidas. Nesse último caso, é preciso primeiro admitir a validade universal e necessária (a apodicticidade) dessas leis, para então interrogar-se por suas condições – o que torna o problema tão relevante para o praxeólgo quanto para o matemático ou o lógico.

Passamos por sobre a quarta questão. Trata-se somente de um erro de leitura: Mises se refere ao fato de que desde há muito tempo as pessoas encaram os fenômenos sociais como passíveis de conhecimento objetivo, portanto regidos por regularidades cognoscíveis, ao invés de serem aleatórios, fatais ou determinados por uma entidade metafísica (Deus, Providência, etc). O que se deve reter disso: só se pode falar de ciências sociais e humanas, se se admite que os fenômenos humanos obedecem a certas regularidades cognoscíveis. Do contrário não há qualquer ciência humana ou social.

Entretanto, nosso crítico, repetindo um princípio básico do relativismo contemporâneo afirma:

“a verdadeira objetividade é impossível, e mesmo as mais rigorosas análises racionais fundamentam-se no conjunto dos valores aceitos no curso da análise.”

Ora, como toda proposição relativista, tal opinião não é apenas falsa, mas destituída de sentido: se não há objetividade, tal proposição não é objetiva e não se vê porque se deveria acreditar que não haja objetividade; logo, deve haver uma objetividade. É óbvio que há objetividade: as ciências não são conjuntos de crenças, mas reais conhecimentos sobre o mundo. Se queremos entrar no complexo universo da epistemologia é preciso já atentar para a mais simplória das distinções: o fato de que uma proposição possa ser falsa não significa que ela seja em algum grau “subjetiva”. Para Karl Popper, por exemplo, é justamente isso que a torna objetiva, significativa e, portanto científica. Quanto as proposições da matemática, da lógica e, aceitando-se a tese de von Mises, da praxeologia, elas não são objetivas nesse sentido: são tautologias e como tais não podem estar incorretas e não podem ser refutadas, já que não possuem qualquer conteúdo material.

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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Pinheirinho X República: Estado de Direito e Direito de Propriedade

A desocupação de um terreno em São José dos Campos/SP tornou-se o assunto preferido dos "intelectuais" brasileiros nos últimos dias. O caso não é complexo: o terreno pertence à massa falida de uma empresa; a justiça estadual determinou a desocupação; a polícia militar foi acionada para fazer a desocupação; houve resitência; pessoas ficaram feridas; a justiça federal, incompreensivelmente resolveu se intrometer no caso; o governo federal, compreensivelmente, resolveu se entrometer no caso; surgiram boatos de "massacre"  e coisas parecidas; uma suposta relatora da ONU condenou a ação; e o circo continua armado. Simples? Digo que seja simples pelas seguintes razões:

1º) Ao contrário do que pensa a suposta relatora da ONU (na verdade uma relatora especial, sem vinculação institucional com a entidade) as Nações Unidas não são um governo mundial, ao qual o Brasil teria que se curvar. Do mesmo modo, não há nem leis, nem judiciário mundial, mas somente tratados entre Estados - tratados, aliás, cuja validade depende só da vontade das parte constituintes e podem ser rompidos a qualquer momento. Resumindo: Não há governo mundial, legislativo mundial ou judiciário mundial, aos quais o Estado brasileiro deveria responder.

2º) A competência para determinar a desocupação pertence claramente à Justiça Estadual. Quando em direito se fala de "interesse da União" o que está em questão é um vínculo objetivo entre o ente federal e a questão e não a curiosidade ou intromissão de membros do governo no problema. O governo central e, ainda pior, o judiciário federal claramente atentaram contra o pacto federativo ao se intrometer no caso.

3º) O direito de propriedade deve ser respeitado. No caso, como o terreno pertence a uma massa falida, será obviamente usado para saldar as dívidas da empresa que fora proprietária do mesmo. Caso estivessem alojados em terras públicas (ou seja, sem dono), estariam, na minha opinião com inteira razão. Mas ninguém tem "direito" aos bens que pertencem a outrem.

4º) Em minha opinião é absurdo que o policiamento ostensivo em todo Brasil seja feito por militares, como se vivéssemos constantemente em estado de sítido. É preciso transferir tal competência para civis, mas mesmo isso não é garantia de resolver os absusos. Abusos por parte do braço armado do Estado sempre haverão, não importa a cor da bandeira dos partidos no governo.

Alguém poderá pensar: "esse sujeito não tem coração, não se compadece com os que não tem um teto para mora". Está certo. Não sou especialmente suceptível à compaixão, mas torço sinceramente para que os invasores do pinheirinho possam, com o próprio trabalho e esforço, conseguir sustentar suas famílias. A pobreza não é um defeito, dizia-se antigamente; e também não é uma fatalidade: esses homens e mulheres são plenamente capazes de trabalhar e adquirir uma propriedade pelo único meio legítimo.

A questão eleitoreira também me parece irrelevante. O que me chama atenção no caso não é a disputa sectária entre os socialistas do PT (e seus filhotes fundamentalistas) e os socialistas do PSDB, mas os atentados ao nosso já frágio Estado de Direito. Pouco mais de duas décadas desde a desastrosa Constituição de 88, revela-se clara a inaptidão da gente brasileira em manter uma República minimamente decente.

Que me perdoem meus amigos na esquerda (e tenho muitos): o caso Pinheirinho é só mais um caso de histeria política coletiva, infelizmente bastante comuns desde há algum tempo.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Quem tem medo do livre-mercado? Ou Ron Paul corrompe a juventude

Pré-candidato republicano à presidência dos E.U.A Ron Ernest Paul
Enquanto o pré-candidato republicano Ron Paul crescia nas pesquisas para as primárias de Iowa há algumas semanas, ‘especialistas” se dedicavam a difamá-lo. Por que? Nenhum desse especialistas, ao que eu saiba, é eleitor americano, inda menos republicano apto a votar nas primárias; nenhum desses artigos que apareceram na mídia mainstrem brasileira poderia ter o mínimo efeito sobre o que se passa nos E.U.A (a menos que tais “especialistas” não tenham passado dos primeiros estágios do desenvolvimento da personalidade. Então fica a dúvida: por que opinar sobre um assunto interno de um país estrangeiro e, mais ainda, sobre um assunto interno do partido republicano? A resposta é simples: Ron Paul corrompe a juventude. O entusiasmo juvenil pelas propostas de Paul e do movimento libertário, que sua brilhante campanha está a difundir ainda mais, assusta tanto a direita conservadora quanto a esquerda (em seus milhões de matizes).

Algumas brilhantes análises da plataforma libertária:



Eis o trecho mais interessante desse artigo da Exame: mostrando toda a sua perspicácia lógica, Marcel Salim (o autor do artigo) nos convida a seguinte imagem, sob a qual a legenda insinua retoricamente (pois afirma-lo seria expor-se por demais ao ridículo) a seguinte contradição:
 
Contraditório? Ron Paul diz "não" a guerra, mas seu material de campanha mostra o candidato em uma batalha”

O autor parece não ter cultura suficiente para perceber que a montagem do banner coloca o pré-candidato como combatente da revolução americana – coisa facilmente interpretável por qualquer ser dotado de mínima inteligência como indicativo da defesa da Constituição original dos E.U.A. e do ideal dos Founding Fathers.
Ron Paul a serviço da conspiração mundial

Mas não é somente a mídia mainstream a espernear  contra a ascensão do libertário. Olavo de Carvalho, porta-voz oficial dos “conservadores” brasileiros no exílio, escreveu um artigo para o Mídia Sem Máscaras, para... (adivinhem) acusar Paul de estar a serviço dos Rockfeller e da conspiração islamo-esquerdista-globalista e etc!!! Vejam:



Reparem o remate do artigo:

“Cada vez mais evanescente a esperança de reeleger Obama – ao menos por vias normais –, é compreensível que o deputado do Texas, cuja integridade pessoal ninguém aliás põe em dúvida, tenha surgido como o Plano B de George Soros e como o candidato predileto do governo russo”

Não, Olavo de Carvalho não está delirando. Ele também não é nenhum louco, como alguns podem pensar (mas também não é nenhum gênio como seus seguidores acreditam). De Carvalho é um sujeito instruído, inteligente mesmo; escreveu um bom livro sobre Husserl, um filósofo consideravelmente difícil e escreve por vezes artigos interessantes. Contudo, o conservador brasileiro parece desde muito ter adotado a seguinte estratégia argumentativa: “discordas de mim? Estas a serviço da conspiração!”

Olavo acredita no que diz? Por óbvio que não. Apenas pretende dar uma força para a ala conservadora do Partido, atacando a ala liberal, no que é seguido pelos “conservadores” brasileiros. Um ataque injustificado, diga-se de passagem, já que a principal questão que poderia levar os conservadores a rejeitar, por princípio, a plataforma libertária, qual seja, a questão do aborto, não se coloca no caso. Embora muitos libertários acreditem que o abordo se resolve numa questão de liberdade individual da mulher, o obstetra Ron Paul é um fervoroso combatente da prática, evocando os direitos fundamentais do feto como ser vivo e humano.

O que é isso? – A direita liberal

Há de se dizer uma última palavra: custa muito aos brasileiros compreender a inserção do movimento libertário no interior do Partido Republicano americano. Daí a reação mais frequente: os que não compreendem, tentam realinhar as posições de Paul com as diretrizes conhecidas da ala conservadora do partido (é o caso do perspicaz colunista da Exame).

É claro que não pretendo, também eu, me intrometer nos assuntos internos americanos. Mas dada a importância, que ninguém negará, da eleição americana para o resto do mundo, resta-me ao menos torcer por Ron Paul e pelo movimento libertário americano. Resta também lamentar que nosso pensamento político seja tão limitado ao ponto de muitos de nós serem incapazes, não digo de acolher as propostas de Paul, senão, minimamente, de compreendê-las.

Ron Paul não tem muitas chances de ser candidato republicano ou eleito presidente dos E.U.A – é preciso dizer para ser realista. Mas independente disso já prestou um inestimável serviço à causa da Liberdade.