Como eu jamais conseguiria ser tão direto sobre o assunto quanto o prof. Pondé, resolvi transcrever esse seu ótimo texto, publicado na Folha de São Paulo e que encontrei no blog do
Rodrigo Constantino. Ele mostra que não há companheiro melhor para a verdade que o bom humor.
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Confesso: sou um infiel. Não no sentido de infidelidade amorosa, mas
religiosa. Não creio no aquecimento global por causas antropogênicas
(trocando em miúdos, não acho que nossos carros estejam aquecendo o
planeta, e se o Sol fosse um Deus como uns pirados achavam que ele era,
estaria rindo de nós e nossos ridículos celulares).
Freud estava
certíssimo quando dizia que a maturidade é para poucos e viver uma
infância retardada é um modo "seguro" de não enfrentar a vida adulta,
que é sofrida, incerta, injusta e inviável.
Isso mesmo, repito
para que meu pecado conste nos autos: não creio que o aquecimento global
seja causado por emissão de gás carbônico, acho (inclusive tem
cientista que afirma isso, os ecocéticos) que o recente aquecimento
começou antes dos últimos cem anos, nos quais nosso gás carbônico
cresceu, e ciclos de esquentamento e esfriamento sempre ocorreram.
Inclusive
aquele aquecimento que se deu entre 50 mil e 20 mil anos atrás (muito
conhecido por quem estuda religiões pré-históricas como eu), foi bem
benéfico para nossos ancestrais, assim como também o foi o da Idade
Média.
Não há consenso acerca das causas antropogênicas do
aquecimento global, há sim consenso (todo mundo que estuda religião sabe
disso) ao redor do fato que apocalipse sempre deu dinheiro. Gastava-se
dinheiro com indulgências na Baixa Idade Média, por que não seria o medo
do fim do mundo ainda hoje uma mina de dinheiro?
O mercado do
apocalipse verde tem seus sábios-profetas-cientistas, mágicos, gurus
espirituais, nutricionistas-sacerdotes de alimentação sagrada, mercado
de cristais sustentáveis, enfim, tudo que há nos fanatismos humanos.
Ninguém
saiu às ruas (muito menos nus) pela mecânica newtoniana, pela
relatividade de Einstein, pelo empirismo de Bacon ou pelo evolucionismo
darwiniano. Aliás, que mania mais "teenager" essa de tirar a roupa toda
hora. Já estão barateando os seios.
As pessoas saem às ruas
porque o verdismo é uma espiritualidade fanática como qualquer outra,
regada a comunismo requentado: o verdismo é uma melancia, verde por
fora, vermelho por dentro. A certeza daqueles que não comem carne acerca
do pecado dos que comem é mais forte do que a condenação do orgasmo
feminino pelas autoridades eclesiásticas mais idiotas que caminharam
pela Europa nas Idades Média e Moderna.
cho que a ciência do aquecimento global que afirma categoricamente que
somos nós que aquecemos o planeta está mais para astrologia (sem querer
ofender a astrologia) do que para astrofísica. Estamos perdendo um tempo
danado deixando que as tribos dos sem-roupa fique atrapalhando um
cuidado mais técnico acerca do futuro do planeta.
Isso não quer
dizer que não exista um problema de sustentabilidade no mundo, apenas
que os fanáticos verdes nem sempre ajudam a enfrentá-lo.
A
"verdade científica" em jogo é o que menos importa, mesmo porque nenhuma
controvérsia científica ao redor do tema pode ser vista como algo
diferente de heresia. Discordar não é ser visto como alguém que debate
teorias científicas, como deve ser o convívio saudável em qualquer
ciência, mas sim como recusa de adesão a uma forma de verdade superior e
pura.
As bobagens do tipo "teoria gaia" ofuscam os corações e
mentes, como todo fanatismo sempre o fez, e impede muitas vezes de ver
que a natureza em sua beleza é muitas vezes mais Medeia do que Gaia.
Em
1755, quando o grande terremoto destruiu Lisboa, a comunidade
intelectual europeia se esforçou para eliminar das causas a "vontade de
Deus". Hoje, supostos cientistas reintroduzem a forma mais vagabunda de
metafísica na ciência, a da "deusa natureza".
Os coitados do Kant e do Newton nunca imaginaram que um dia iríamos retroceder às trevas assim. Andamos sim em círculos.
A
pergunta que não quer calar é: se está certo quem diz que quando se
quer saber a verdade sobre a sociedade deve-se seguir o dinheiro, cabe a
nós identificarmos quem está ganhando rios de dinheiro com esse
fanatismo que já se constituiu em mais um fator a dificultar sairmos do
buraco econômico em que estamos.