quinta-feira, 5 de julho de 2012

L. v. Mises - A singularidade da Economia

O que confere à economia sua posição única e peculiar, tanto na órbita do conhecimento puro quanto na da aplicação prática do saber, é o fato de que os seus teoremas não são passíveis de comprovação ou de refutação com base em experiências.  Certamente, uma medida proposta por um raciocínio econômico correto produz os efeitos desejados, e uma medida proposta por um raciocínio econômico equivocado não atinge os objetivos pretendidos.  Porém, ainda assim, esses resultados são sempre uma experiência histórica, ou seja, experiência de fenômenos complexos.  Não servem para provar ou refutar qualquer teorema econômico.

A adoção de medidas econômicas erradas resulta em consequências não desejadas.  Mas esses efeitos não possuem jamais aquele poder de convencimento que nos é propiciado pelos "fatos experimentais" no campo das ciências naturais.  Só a razão, sem qualquer ajuda da comprovação experimental, pode demonstrar a procedência ou a improcedência de um teorema econômico.

A consequência nefasta deste estado de coisas é impedir que as mentes menos preparadas possam perceber a realidade dos fatos com que lida a economia.  Para o homem comum, "real" é tudo aquilo que ele não pode alterar e a cuja existência tem que ajustar suas ações, se deseja atingir seus objetivos.  A constatação da realidade é uma experiência dura.  Ensina os limites impostos à satisfação dos desejos.  É a contragosto que o homem reconhece que existem coisas — todas aquelas que decorrem de relações causais entre eventos — que não podem ser alterados com base em crenças que decorrem de seus desejos e não de fatos.  Não obstante, a experiência sensorial fala uma linguagem facilmente compreensível.  Não se pode argumentar contra uma experiência feita corretamente.  A realidade de fatos estabelecidos experimentalmente não pode ser contestada.

Mas, no campo do conhecimento praxeológico, nem o sucesso e nem o fracasso falam uma linguagem clara que todos compreendam.  A experiência decorrente exclusivamente de fenômenos complexos não consegue evitar interpretações em que os desejos substituem a realidade.  A propensão, existente nos homens menos preparados, de atribuir uma onipotência aos seus pensamentos, por mais confusos e contraditórios que sejam, nunca é desmentida pela experiência de forma clara e sem ambiguidade.  O economista jamais tem condições de refutar os impostores da mesma maneira que o médico pode refutar os curandeiros e os charlatães.  A história só ensina àqueles que sabem como interpretá-la com base em teorias corretas.

Texto completo em: Instituto Ludwig von Mises Brasil

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