terça-feira, 2 de abril de 2013

A Corrupção da Filosofia

Philosophum non facit barba

Falava ainda ontem sobre um tipo de pensamento que insidiosamente penetrou em todas as instituições desta Terra de Santa Cruz. E, contudo, se não mirássemos no espelho, correríamos o risco de recair na velha oposição entre os verdadeiros pensadores e os ideólogos. Antes que chegássemos a institucionalização da corrupção como forma autônoma e eficiente de uma filosofia prática foi preciso, creio, que a própria filosofia se deixasse corromper, pois a arbitrariedade do poder não pode sobreviver sem a arbitrariedade do pensamento. Quando a filosofia perdeu sua referência à verdade, um horizonte foi aberto para que as ciências – e sobretudo as mais precárias – fizessem o mesmo; para que as ideologias, as mais perversas, se confundissem às justas aspirações políticas; para que, enfim, o bufão e o tolo pudessem dar lições aos sábios. E se procurássemos o perverso que primeiro elevou o vulgo à douta ignorância e fez descer o sábio a aprendiz de saltimbanco, talvez encontremos um velho conhecido, aquele que Nietzsche chamou de “o chinês de Königsberg”: Kant, o sacerdote da revolução dos escravos na filosofia moderna. 

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