Philosophum non facit barba |
Falava ainda ontem sobre um tipo
de pensamento que insidiosamente penetrou em todas as instituições desta Terra
de Santa Cruz. E, contudo, se não mirássemos no espelho, correríamos o risco de
recair na velha oposição entre os verdadeiros pensadores e os ideólogos. Antes
que chegássemos a institucionalização da corrupção como forma autônoma e
eficiente de uma filosofia prática foi preciso, creio, que a própria filosofia
se deixasse corromper, pois a arbitrariedade do poder não pode sobreviver sem a
arbitrariedade do pensamento. Quando a filosofia perdeu sua referência à
verdade, um horizonte foi aberto para que as ciências – e sobretudo as mais
precárias – fizessem o mesmo; para que as ideologias, as mais perversas, se
confundissem às justas aspirações políticas; para que, enfim, o bufão e o tolo
pudessem dar lições aos sábios. E se procurássemos o perverso que primeiro
elevou o vulgo à douta ignorância e fez descer o sábio a aprendiz de
saltimbanco, talvez encontremos um velho conhecido, aquele que Nietzsche chamou
de “o chinês de Königsberg”: Kant, o sacerdote da revolução dos escravos na
filosofia moderna.
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